ATA DA OITAVA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 15.04.1999.

 


Aos quinze dias do mês de abril do ano de mil novecentos e noventa e nove reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezenove horas e vinte e seis minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada à homenagear os dez anos do GAPA - Grupo de Apoio à Prevenção da AIDS, nos termos do Requerimento 23/99 (Processo nº 570/99), de autoria da Vereadora Helena Bonumá. Compuseram a MESA: o Vereador Adeli Sell, 1º Secretário da Câmara Municipal de Porto Alegre, na presidência dos trabalhos; a Senhora Karen Bruck de Freitas, Presidenta do GAPA; o Senhor Alexandre Boher, representante do Prefeito Municipal de Porto Alegre; a Senhora Júlia Ilenir Martins, representante da Procuradoria Geral de Justiça do Estado; a Senhora Vera Triunfo, representante da Secretaria de Trabalho e Ação Social; a Senhora Adalgisa Araújo, representante do Conselho Estadual de Saúde; a Senhora Denise Argemi, representante do Jus Mulher; a Vereadora Helena Bonumá, proponente da Sessão e, na ocasião, Secretária "ad hoc". Também, o Senhor Presidente registrou o recebimento de correspondência alusiva à presente solenidade, de autoria da Senhora Ivone Coelho de Souza, Coordenadora do Jus Mulher. Em continuidade, o Senhor Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. A Vereadora Helena Bonumá, em nome das Bancadas do PTB, PMDB, PSB e PPS, discorreu sobre o pioneirismo e a ação exemplar do GAPA nesses dez anos de existência, salientando a importância da entidade, que foi uma das primeiras vozes a quebrar o preconceito e o silêncio em relação à questão da AIDS. Na oportunidade, o Senhor Presidente registrou a presença do Comandante-Geral da Brigada Militar no Rio Grande do Sul, Coronel Roberto Ludwig. Ainda, como extensão de Mesa, foram registradas as presenças dos Senhores Luiz Fernando Pinto Kael e Myrian Beck Bisol, representantes da Senadora Emília Fernandes; do Senhor Edson Domingues, representante do SESI - Serviço Social da Indústria; do Senhor Jorge Vieira, Coordenador Geral do Canal Comunitário; da Senhora Suzana Prestes, representante do Deputado Federal Marcos Rolim; das Senhoras Graciela Saldies e Neusa Müller, representantes da Deputada Federal Esther Grossi; do Senhor Guilhermo Toro, representante do Jornal Folha do Porto. A Vereadora Sônia Saraí, em nome da Bancada do PT, destacou o significado da presente homenagem, afirmando que o GAPA teve a coragem de contestar o sistema social vigente ao lutar contra a discriminação, referindo-se, em especial, às situações enfrentadas por crianças e adolescentes, principais vítimas da falta de reconhecimento da cidadania. Em prosseguimento, o Senhor Presidente concedeu a palavra à Senhora Déborah Finocchiaro, que falou sobre o problema da AIDS na sociedade atual e cantou músicas compostas por sua irmã, Lori Finocchiaro, que faleceu vitimada por essa doença. Na ocasião, o Senhor Presidente anunciou a presença da Senhora Mairi Parezi, representante da Presidenta da Fundação de Educação Social e Comunitária, FESC; da Senhora Nêmora Barcelos, Coordenadora do Programa Estadual de AIDS; do Senhor Carlos Aleixo, da Delegacia Regional do Trabalho; e do Senhor Alcindo Ferla, representante da Secretaria Estadual da Saúde. A seguir, concedeu a palavra à Senhora Karen Bruck de Freitas, Presidenta do GAPA, que agradeceu a homenagem prestada pela Casa. Em continuidade, o Senhor Presidente convidou a todos para coquetel e para a abertura da exposição “Fragmentos”, do Artista Nílton Altíssimo, a serem realizados a seguir, junto ao Memorial da Câmara Municipal de Porto Alegre. A seguir, convidou os presentes para, em pé, ouvirem à execução do Hino Rio-Grandense. Às vinte horas e dezoito minutos, o Senhor Presidente agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Adeli Sell e secretariados pela Vereadora Helena Bonumá, Secretária “ad hoc”. Do que eu, Helena Bonumá, Secretária “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 

 


O SR. PRESIDENTE (Adeli Sell): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, destinada a homenagear os 10 anos do GAPA - Grupo de Apoio à Prevenção da AIDS.

Convidamos para compor a Mesa a Presidenta do GAPA, Sra. Karen Bruck de Freitas; representante do Sr. Prefeito Municipal, Sr. Alexandre Bhoer; representante da Procuradoria-Geral do Estado, Dra. Júlia Ilenir Martins; representante da Secretaria de Trabalho e Ação Social, Sra. Vera Triunfo; representante do Conselho Estadual de Saúde, Sra. Adalgisa Araújo; representante do Jus Mulher, Sra. Denise Argemi.

Acusamos o recebimento da correspondência, através da Vera. Helena Bonumá, da Sra. Ivone Coelho de Souza, Coordenadora do Jus Mulher, desculpando-se por não poder comparecer e apresentando a Dra. Janet Chang, Vice-Coordenadora da Assessoria Psicológica da Mulher, para representá-la.

Vamos dar início à nossa homenagem ao GAPA, grupo de Apoio à Prevenção da AIDS.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.

 

(Executa-se o Hino Nacional.)

 

O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra à proponente da homenagem, Vereadora Helena Bonumá, que falará pelas Bancadas do PTB, PMDB, PSB e PPS.

 

A SRA. HELENA BONUMÁ: (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Companheiros e companheiras que nos acompanham hoje, na comemoração, nesta Casa, dos 10 anos do GAPA. Nós fizemos questão de colocar este tempo à disposição do GAPA, porque entendemos que uma Casa como a Câmara de Vereadores, uma instituição pública política tem que abrir espaço, tem que festejar, que comemorar, que marcar e repercutir aqui dentro a luta que a sociedade civil que se organiza por seus direitos tem feito. Nesse sentido, esses 10 anos da trajetória do GAPA são exemplares. Em primeiro lugar, porque a luta específica para a qual o GAPA se organizou, a consciência social que o GAPA gerou, tem um elemento de coragem muito grande. O GAPA foi uma das primeiras vozes, aqui no nosso Estado, a quebrar o silêncio e a romper com o preconceito que revestia a epidemia de HIV, a contaminação de pessoas, a determinação disso sobre a vida de muitas pessoas.

Então, esse registro dos 10 anos do GAPA parte desse princípio: nós temos que trazer para esta Casa política essas questões. E nós temos que trazer a sociedade que luta concretamente para falar e para repercutir aqui dentro. E para que o trabalho que a gente faz a partir deste Legislativo seja fecundado por esta experiência, por essa energia toda que se organiza na sociedade, por direitos, por cidadania, por uma nova concepção de humanidade, na qual a ação do GAPA nesses 10 anos tem sido exemplar. Se nós pensarmos no início dessa luta, no início dos anos 80, quando começava a se falar na contaminação por HIV e não se tinha conhecimento em relação a isso, observamos que havia todo um preconceito, porque a doença chegou a nós como um “câncer gay”, e, portanto, não era motivo para maior preocupação da sociedade e da saúde pública. Isso serviu apenas para que o preconceito contra alguns grupos sociais se reavivasse: a fobia, o preconceito e a discriminação contra os homossexuais, contra os usuários de drogas, contra as minorias políticas, que são a maioria da nossa população, e que foram consideradas, num primeiro momento, como grupo de risco e, como tal discriminadas, mais ainda do que normalmente já são, na sociedade.

Essa questão não teve, num primeiro momento, audiência social, ao contrário, aqueles que tiveram a ousadia de levantar a sua voz e se organizar nessa luta também sofreram o preconceito, o desdém da sociedade e, muitas vezes, tiveram o tratamento dos grupos sociais discriminados, como de resto ainda tem. E o GAPA foi uma das primeiras vozes a quebrar esse silêncio, a se contrapor contra essa injustiça, a trazer a informação e o esclarecimento, a consciência em relação a essa problemática do HIV e da AIDS, tratando essa questão numa linha extremamente humana.

A AIDS não pode ser vista, apenas como uma doença do ponto de vista terapêutico, mas, também, como um problema social, cultural e de concepção. O combate à AIDS nos traz um problema de concepção de mundo, de sociedade e de humanidade.

E se hoje para nós essa luta parece uma coisa meio óbvia, nós que  acompanhamos essa luta, isso poderia não ter sido dessa forma, porque essa visão toda, na qual a luta se desenvolveu, é fruto da elaboração, da compreensão, do fato que as pessoas contaminadas aderiram a esta luta e que tem uma Entidade que puxou esse luta, ou seja, um conjunto de voluntários que usou seu tempo, sua energia a serviço de pensar que a AIDS não era só um problema de doença, um problema de cura, terapêutico, mas que dizia respeito ao nosso tempo, às nossas condições de vida, ao nosso tipo de vida e ao nosso mundo, o mundo que nós queremos construir: as relações sociais, pessoais, afetivas e humanas. A AIDS mexe com a vida, com a morte e com a sexualidade.

Nós nos viramos do avesso com essa questão e eu quero trazer, aqui, o resgate que o GAPA trabalhou, divulgou, propôs e polemizou em cima disso. Por isso, é importante esse resgate de uma proposta, de uma visão, de uma concepção que articula a solidariedade, o trabalho voluntário, uma visão de sociedade e que não se limita à busca curativa, a busca de um tratamento, até porque a AIDS não tem cura, mas passou a ser, por muitas abordagens, como por exemplo a do Estado Brasileiro, muitas vezes, intratável.

Como não tinha cura, não valia a pena o investimento. Essa foi uma visão do início, quando se trabalhava aquela noção de grupo de risco e do setor social discriminado.

Então, foram ações como a do GAPA, do Rio Grande do Sul, que inverteram essa lógica, que fizeram a afirmação de que, sim, essa é uma epidemia tratável, é uma doença tratável, pessoas contaminadas têm o direito de cidadania de acordo com o direito de qualquer outro cidadão. Principalmente, a nossa população tem que ter o direito à informação desconstituída de preconceito, de ter o conhecimento em relação aos dados da doença e a sua forma de prevenção.

Nesse ponto, o GAPA se antecipou ao Estado no tratamento dessas questões. Muitas vezes, o GAPA corrigiu e denunciou o Estado, na medida em que as campanhas estaduais pareciam não ser contra a AIDS, mas sim, contra os portadores do vírus do HIV ou pessoas contaminadas.

Então, essa trajetória de dez anos merece destaque. Considerando-se ainda, que essa trajetória se dá num País de Terceiro Mundo, como o Brasil, onde os recursos para a saúde pública, educação, informação sobre os direitos de cidadania do nosso povo são escassos e cada vez mais cortados.

Esses dez anos do GAPA coincidem com a implantação dos governos neoliberais no nosso País, que nós sabemos que tratamento foi dispensado à saúde a partir de então, às políticas sociais, a partir daí.

Essa existência do GAPA como uma organização não-governamental, num País que não respeita a cidadania, no qual, as políticas públicas são cada vez mais cortadas e os recursos públicos cada vez mais usados para o pagamento da dívida externa e outras finalidades, muitas vezes, para a sustentação do capital financeiro e não para as questões sociais, uma entidade, uma organização não-governamental se sustentar por dez anos, sendo referência no trabalho numa temática tão complexa como essa, de fato, merece destaque. Merece uma homenagem como a que estamos fazendo aqui na Câmara, hoje, estamo-nos reunindo, nós que somos desta luta, pertencemos a muitas organizações do movimento social, como os Vereadores aqui presentes, Ver. João Motta, Vera. Sonia Saraí, Ver. Adeli Sell, todos da Bancada do Partido dos Trabalhadores, sabemos o quanto custa sustentar esse movimento e a isso se atribui a trajetória de 10 Anos do GAPA, uma importância que a sociedade e instituições, como a Câmara de Vereadores, devem reconhecer. É um exemplo de organização num País onde o Estado antecede à sociedade, na nossa história, e a sociedade luta para sobreviver organizada, de uma forma que bem conhecemos. Nós achamos que o GAPA merece, sim, esta homenagem. Vejo aqui muitos companheiros, voluntários, batalhadores da Entidade, como companheiros que já fizeram parte da Diretoria do GAPA, e quero aproveitar a ocasião, minha companheira Karen, que é Presidente da Entidade, para dizer que, neste momento, temos que trazer à memória aquelas pessoas que já se foram, pela doença, que tiveram e deixaram suas ações em prol dessa causa, desse movimento, que se destacaram nisso, pois há uma coisa importante a ser resgatada num momento como este. A compreensão de toda essa problemática que a luta contra a Aids e que a doença nos possibilitou, que o GAPA fez de uma forma muito pertinente, nos dá uma outra dimensão de humanidade. A luta contra a Aids possibilitou que nos reavaliássemos como ser social, como ser humano, como sociedade. Quero resgatar que muitos companheiros colocaram nisso a vida e a energia e que, neste momento, merecem ser lembrados.

Hoje o GAPA, com muita pertinência, está abrindo uma exposição que quero citar, é do Nílton Altíssimo, artista plástico. Está presente o Telo, que foi quem organizou a exposição, e está trazendo os fragmentos, como uma parte dessa luta, dessa memória, dessa construção social e coletiva, que tem sido feita pelo GAPA, aqui no Estado, trazendo-nos, com certeza, mais humanidade.

A esta Casa fica o resgate dos 10 Anos de luta do GAPA e o nosso compromisso com essa luta, colocando-nos à disposição da Entidade e da causa de combate e prevenção da Aids. Muito obrigada. (Palmas.)

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: Temos o prazer de ter como componente da Mesa o Comandante-Geral da Brigada Militar do Rio Grande do Sul Coronel Roberto Ludwig. Também presentes os Vereadores João Motta e a Vera. Sonia Saraí, da Bancada do Partido dos Trabalhadores. Como extensão da Mesa anunciamos os representantes da Senadora Emília Fernandes, do PDT, Sr. Luiz Fernando Pinto Kael e Sra. Myrian Beck Bisol; representando o SESI, o Sr. Edson Domingues; representando a Deputada Federal Esther Grossi, do PT, a Sra. Graciela Saldies e a Sra. Neusa Müller; o Coordenador-Geral do Canal Comunitário Sr. Jorge Vieira; representando o Deputado Federal Marcos Rolim, a Sra. Suzana Prestes e representando o Jornal Folha do Porto o Sr. Guilhermo Toro.

A Vereadora Sonia Saraí está com a palavra, pela Bancada do Partido dos Trabalhadores.

 

A SRA. SONIA SARAÍ: Sr. Presidente e Srs. Vereadores (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Este é um momento muito importante para os que fazem parte de um movimento social, para os que ajudam a transformar a sociedade. Nesta data seria indispensável ressaltar a importância do GAPA, mas reafirmamos que hoje o GAPA significa a luta contra a discriminação, contra os maus-tratos, contra o preconceito instituído em nossa sociedade em relação aqueles que tiveram a coragem de se manifestar contra o sistema que nos foi imposto. E nos tempos de AIDS, a desinformação, a ignorância atinge de forma brutal a nossa sociedade e nos diz que temos uma tarefa árdua, que é a de dizermos para a sociedade que não só vamos mudar as formas, mas que mudaremos a cultura que nos foi imposta, que é a cultura que prega a discriminação e o preconceito, porque, infelizmente, a sociedade capitalista, o neoliberalismo, sobrevive da doença, sobrevive da ignorância, sobrevive da discriminação e, por isso, investe tanto nisso. E instituições como o GAPA se contrapõem a isso.

Aproveitando este momento, que é solene, ele é importante, para traçarmos um pacto. Devemos formar uma corrente cada vez mais firme, mais forte, entre a sociedade civil e o poder público. É só desta forma que nós vamos conseguir combater esta questão tão séria da nossa sociedade que, na forma da AIDS, vem para dizer, mais uma vez, que o preconceito vai-se manter. Pelo menos é isso que os meios de comunicação, até agora, vêm dizendo. Quando nos juntamos e formamos este elo, queremos convencer o Poder Público que ele tem que ser parceiro das instituições não-governamentais para instituir uma nova forma de fazer as coisas, vamos dizer que não, que não vai ser mais desse jeito. Nesse pacto, eu gostaria de ressaltar uma parte que é importante, fundamental, que é a parte que atinge diretamente as crianças e os adolescentes, aqueles que foram atingidos por abusos sexuais e outros tipos de violência que nós sabemos que, infelizmente, uma parte das nossas crianças e adolescentes todos os dias são vítimas. Eu digo isso, porque fui Conselheira Tutelar durante 6 anos e presenciei de perto esta situação, que eu nem sei qual a palavra correta para dizer, mas assisti à falta de reconhecimento da cidadania das crianças adolescentes, principalmente se eles são portadores do vírus HIV. E nós sabemos de que forma as crianças adolescentes adquirem este vírus. Neste pacto, eu queria ressaltar a importância de contar com isso, das crianças que são vítimas de violência sexual, que nós conseguíssemos dizer para as pessoas que ninguém mais tem que se calar diante deste tipo de violência, nem desta e nem de outras. A nossa sociedade não avalia a dimensão que causa uma violência dessas, no corpo e no comportamento dessas crianças adolescentes.

Para finalizar, eu queria dizer para o GAPA, em especial, que eu sonho com uma sociedade onde não precisaremos constituir órgãos que defendam os direitos humanos, que defendam a cidadania. Espero viver para ver essa sociedade, assim como outras pessoas esperam.

Tenho certeza de que o GAPA é um parceiro fundamental para construirmos a nossa sociedade. Creio que seremos capazes de realizar esse sonho com uma instituição como o GAPA e com muitas outras que estamos conhecendo hoje aqui. Muito obrigada. (Palmas).

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: A senhora Déborah Finocchiaro está com a palavra.

 

A SRA. DÉBORAH FINOCCHIARO: (Saúda os presentes.) Sinto-me honrada por ter sido convidada para participar desta Sessão. O pessoal do GAPA e a Vereadora sugeriram o meu nome porque eu vivi muito de perto a situação da minha irmã, que faleceu com AIDS. Sinto-me bem engajada nessa luta.

Para quem não me conhece, sou atriz, diretora. Escrevemos um espetáculo - “O Vampiro Vlaids” - uma comédia sobre AIDS. Fizemos em uma empresa, que se chama “Albarus”, em parceria com o GAPA, com atores profissionais. Essa peça é uma “comediona” de rir muito e fala da AIDS e do preconceito, principalmente. Um vampiro se contamina com a única que não seria a propícia a ter o vírus, que era a “mocinha” da comunidade. Acho importante poder falar mais abertamente sobre esse assunto, não ser tão dramático, porque, quando se lida com a morte, é tanto preconceito de quem está contaminado quanto de quem não está contaminado, que vejo, às vezes, que o que mais mata é isso. Quem tem o vírus tem muito mais clareza quanto a isso do que eu no que estou dizendo, ou seja, essa dificuldade que temos em lidar com a morte, sem nos darmos conta de que todos somos mortais, de que todos vamos morrer. Estive pela Bahia, e tenho percebido, cada vez mais, e visto, que pessoas da minha idade ou mais jovens não usam camisinha. Parece que AIDS não existe ainda. Vejo uma ineficiência nas campanhas. Precisa alguém morrer, para termos essa consciência, precisa ir embora alguém que se ame muito ou ainda continua aquele velho chavão: “Imagina que o cara vai ter AIDS!”. Sinto-me, como artista penso que posso falar pelo Edinho Spíndola, que é um grande artista, um grande músico, que é uma missão o nosso trabalho - acredito em Deus, Deus deu-me esse talento - poder falar, cada vez mais, sobre esse tipo de assunto, poder falar, cada vez mais: “abaixo o preconceito e a hipocrisia!” Quando falamos nesse tipo de assunto, às vezes, parece que não há nenhum preconceito, mas no nosso dia-a-dia, exercemos a hipocrisia de uma maneira impressionante nos relacionamentos, nos casamentos e muito com pessoas que trabalham com essa questão. Acredito na união e espero poder, cada vez mais, estar disponível, e me disponho, cada vez mais, a estar junto nessa luta. Vou ler uma mensagem do Marcelo Dierchxs que diz: (Lê.) “Devemos ter bem claro que, ao contrairmos o vírus HIV, é somente nossa saúde que é afetada. Nossa história de luta, talento e caráter precisa ser respeitada porque não somos números para estatísticas, continuamos sendo cidadãos de direito. Lembrando alguns que já partiram ‘num rabo de foguete’, como dizia Elis Regina, o Caio, o Bethinho, o Fernando Zinpec, entre tantos outros”. Esta noite, podemos conhecer de perto o legado do Nilton Altíssimo, é um artista plástico, que está expondo na Câmara Municipal, bem como as letras das música da minha irmã Lori, que já morreu. Ela assumiu esse vírus, ela foi uma vitoriosa nessa luta porque assumiu de frente e “segurou muita onda”, era uma época que quase ninguém falava em AIDS e ela assumiu de uma maneira impressionante. Ela deixou um trabalho maravilhoso de música, era uma grande baixista, compositora, letrista. Informalmente, vou tocar algumas músicas dela. Muito obrigada.

Vamos apresentar algumas canções de autoria da minha irmã.

 

(É interpretada uma canção.) (Palmas.)

 

O nome da música é Vício, ela foi composta pela minha irmã que morreu de Aids. Estava cega por causa da cocaína que ela usou durante quinze anos. Isso foi muito forte, e ela disse que, se não tivesse-se contaminado pelo vírus da Aids, acabaria morrendo de overdose. Antes de “ir” ela compôs essas músicas que eram um reflexo dela.

(É interpretada outra música.) (Palmas.)

 

Vamos terminar essa singela apresentação com um rock and roll cujo refrão diz o seguinte: “Se acima de tudo você só pensa em grana, jamais vai saber que existe algo além da cama”.

 

(São interpretadas outras duas canções.) (Palmas.)

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: Déborah, nós agradecemos pela sua presença, pela sua arte, em nome de todos.

Queremos registrar a presença, que honra esta Sessão Solene, da Sra. Mairi Parezi, representante da Presidente da FESC; da Nêmora Barcelos, Coordenadora do Programa Estadual de AIDS; do Carlos Aleixo da DRT e do Alcindo Ferla, representante da Secretaria Estadual de Saúde. Nossos profundos agradecimentos pela presença de todos os que honram esta Sessão Solene.

A Sra. Karen Bruck de Freitas está com a palavra.

 

A SRA. KAREN BRUCK FREITAS: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) São dez anos e a gente se pergunta o que temos para comemorar. Acho que muito, eu pensava, olhando para cada fisionomia. São tantos companheiros e pessoas que estão há dez anos construindo o GAPA, que a gente tem muito a comemorar. Se não por outra coisa, acho que todo mundo já sabe bastante da história do GAPA, não é dela que eu quero falar hoje. O maior motivo para a gente comemorar é que o GAPA é uma experiência que deu certo. Começamos com um grupo pequeno e hoje somos mais de setenta pessoas, mas isso é parte de uma história bem sucedida. A outra é: que bom que, em algum momento, na Cidade de Porto Alegre, um grupo de pessoas corajosas se reuniu e resolveu oferecer, pelo menos, um ombro amigo para algumas pessoas que estavam, naquele momento, quase que com um atestado de óbito na mão. Que bom que houve corajosos que disseram: “vamos acolher”, porque é essa a palavra, acolher. Quem bom que houve pessoas que nos precederam.

Eu lembro muito aqui do Adelmo Turra, um dos primeiros Presidentes do GAPA, quando, com muita lucidez, explicava para nós o que era, afinal, a palavra solidariedade. Parece uma palavra, em alguns momentos, vazia, mas para nós, efetivamente, ela não o é. A palavra solidariedade é um conceito político também, Srs. Vereadores, porque, de alguma maneira, ela veio substituir aquilo que a gente imaginava antes ser um conceito de piedade. Piedade pressupõe ter pena de alguém que está numa situação inferior a nossa; solidariedade pressupõe estarmos lado a lado, e é a essa pessoa que a gente vai oferecer o ombro. Isso, por si só, já é motivo de comemoração. Perguntam-nos muito, o GAPA dá muita entrevista: Qual o número de casos acumulados? Quantos números em Porto Alegre? Hoje a exposição que vamos apresentar mais tarde - convidamos todos a visitá-la - irá mostrar que não são esses números que nos interessam. O que nos interessa é que por trás desses números há pessoas de carne e osso, e são essas pessoas que nos interessam - não os trezentos ou quinhentos mil casos - são essas pessoas que são objeto da solidariedade do GAPA.

Eu não poderia deixar de aproveitar esta oportunidade de falar, uma vez que estamos numa Casa política, onde atuam Vereadores, nossos representantes.

O que mudou, nesses dez anos do GAPA, é que agora podemos dizer com absoluta tranqüilidade que hoje não se morre mais de AIDS. E se morrer é porque houve, em algum momento, a omissão de alguém, do médico, do profissional de saúde, do Estado, ou da família - porque é todo um conjunto de responsabilidades. Mas alguém, efetivamente, está-se omitindo nessa luta tão árdua que temos para fazer frente à epidemia. Hoje, efetivamente, com os avanços a que a ciência chegou, com o esforço de organizações, não só do GAPA, mas do mundo inteiro, não se precisa mais morrer de AIDS. Isso tem que ficar bem claro para entendermos quando vermos o GAPA botando a “boca no trombone”: Cadê o medicamento? Cadê o atendimento digno? O hospital? Essa bandeira não vamos largar jamais. Vamos ocupar sempre os espaços para lembrar a todos isso. Hoje já não se morre mais de AIDS. Estamos aprendendo a viver e a conviver com o HIV.

Quero falar do espaço que o GAPA vem ocupando nesta Cidade, o que, ontem à noite, eu tive a oportunidade de ver, quando estive no GAPA para conversar com as pessoas que se encontram lá, à noite, que são portadores do vírus HIV e alguns doentes de AIDS, como acontece todas as quartas-feiras. Havia 45 pessoas no auditório. Um companheiro nosso chegou atrasado e eu cobrei dele, e ele me disse: “Pelo amor de Deus, não me cobra. Eu vim de Gravatai; pego três conduções para poder estar aqui todas as quartas-feiras participando desse encontro.”

Essa pequena historinha me bateu muito fundo. Às vezes nem percebemos como é bom ter uma casa, um ombro, um lugar onde podemos ser ouvidos.

Essa é a melhor lição; é isso que a gente tem a comemorar nos dez anos do GAPA. Eu gostaria de comemorar este aniversário como se fosse um brinde à vida, porque a história do GAPA é exatamente este brindar à vida. Muito obrigada. (Palmas.)

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: Como disse a Presidente do GAPA, esta é uma Casa legislativa e, por isso, faço questão de agradecer pela presença da proponente da Sessão, Vereadora Helena Bonumá, da Vereadora Sonia Saraí, do Vereador João Motta, e dos representantes do Deputado Marcos Rolim e da Deputada Esther Grossi. Nós nos permitimos quebrar o protocolo pela importância do GAPA, que está em campanha e precisa ser sustentado, de forma solidária e de forma material, porque um aspecto da solidariedade às vezes é a ajuda material. No próximo sábado, às 15h, haverá uma atividade de recolhimento de fundos de divulgação, no Nova Olaria. Faço este apelo em nome desta Casa e dos Vereadores.

Convidamos a todos para visitarem a exposição “Fragmentos”, junto ao Memorial da Casa, onde também haverá um coquetel.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvir o Hino Rio-grandense.

 

(Executa-se o Hino Rio-grandense.)

 

Parabéns ao GAPA! Glória à vida! Estão encerrados os trabalhos da presente Sessão.

 

(Encerra-se a Sessão às 20h18min.)

 

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